quarta-feira, agosto 11, 2010

S.O.S. Tem um louco na Cobertura!

Certa vez, cuidei da produção técnica dos principais equipamentos de um show de bairro: um palco de 8m x 6m, som com uma mesa para operar PA (som que vai para o público) e monitores (som de retorno para as bandas), luz, banheiros... O evento era na periferia, onde os artistas eram todos da região. Após alguns atrasos na montagem, o evento começa pela manhã com um desfile cívico e passa às atrações musicais. Durante a tarde tudo ocorreu normalmente, bandas entrando no horário, trocas de palco ágeis, nenhuma programação cancelada...

Quando a penúltima banda da noite se preparava para começar a tocar, um sujeito sobe no torre de PA, ao lado da mesa de som onde eu estava. Fui até a ponta do palco e pedi gentilmente para ele descer. A torre tinha apenas um metro e meio de altura, mas ninguém deveria ficar ali, obviamente. Pela reação débil do sujeito - sem falar uma palavra, apenas estático me olhando - percebi que ele era louco ou estava drogado. Resolvi não me meter nessa confusão sozinho, fui chamar os responsáveis da entidade promotora do evento. Não havia seguranças no evento e a polícia estava apenas fazendo a ronda no local, não havia uma viatura fixa. Quando cheguei com o "reforço" foi feita nova tentativa de comunicação e sem nenhuma surpresa, presenciamos a mesma reação débil. Um funcionário da entidade, puxou a perna do louco e, acuado, ele subiu nas caixas de PA. Ficou perigoso tentar tirá-lo de lá, então chamamos a polícia.

A banda ficou pronta, fez o check line (teste dos instrumentos) e ia começar a tocar. A locutora fez a chamada e o show começou com uma pessoa em cima das caixas. Durante a primeira música, enquanto aguardávamos a chegada da polícia, alguns rapazes da equipe de som e dos promotores foram tentar tirar o cara de cima das caixas. Ele estava a uns 4 metros de altura e não teve dúvidas, acuado, escalou a coluna de boxtruss e subiu na cobertura do palco a seis metros do chão.

A música continuou a rolar e o cara começou a dançar na beira do palco, bem no cume. A brincadeira ficou perigosa, o rapaz poderia cair a qualquer momento, ainda mais se estivesse realmente drogado. Tirá-lo de lá de cima era uma situação delicada e complicada, sem mencionar arriscada. Eu não subiria lá, pra sair rolando com um doido descontrolado... a polícia ainda não havia chegado... Procedimento número um, diminuir o risco. Fazer o cidadão parar de dançar no topo do palco. Ainda não sei se foi o mais certo, mas a solução que achei na hora foi parar o som.

Procurei a locutora que andava pelo público com o microfone e falei pra ela: "Vou cortar o som, pede pra ele descer". Esperava que ela tentasse convencê-lo a descer, porém, ela acabou provocando ao louco e ao público: "Louco, desce do palco!" e o público ajudou "Pu-la, Pu-la, Pu-la!". E agora? O que fazer?

O ser começou a andar de um lado pro outro da cobertura sem saber o que fazer. Ele ia de uma ponta a outra e com isso o público começou a ficar impaciente com a espera. Pior que isso: resolveu agir! Um rapaz subiu por uma coluna do palco, para chegar à cobertura e tentaram segui-lo. Corri com as outras pessoas da organização para evitar, mas já haviam três garotos e um louco em uma perseguição a seis metros de altura. Eles corriam pela estrutura de box truss e pela lona que era amarrada apenas por cordas tensionadas que a qualquer momento poderiam ceder com o peso das 4 pessoas correndo. Quem estava perto do palco não conseguia enxergar muita coisa, não havia ângulo. Em uma confusão dessa o sujeito drogado poderia muito bem jogar um dos rapazes de lá de cima. Ou pior, um dos rapazes loucos o suficiente para transgredirem subindo no palco para pegar o rapaz, poderiam resolver jogar o sujeito de lá de cima.

Após cinco minutos de perseguição, que mais pareciam meia hora, os rapazes encurralaram o doido no canto do palco e fizeram ele descer junto com eles. Quando começaram a descer, uma multidão se juntou ao pé do palco para esperá-los. Quando o pé do maluco chegou a 2 metros de altura, uma pessoa já o agarrou e começou a socar sua perna. A organização do evento afastou as pessoas que queriam linchar o louco, enquanto os três rapazes subiram no piso do palco com ele. Parte da organização foi ajudar a escoltá-lo, quando corri para pedir que continuassem o show. Assim, a atenção voltaria para a banda e dispersaria grande parte das pessoas que queriam espancar o sujeito.

O louco foi levado pelo palco até a escada, mas não foi possível descer. Havia mais de 15 pessoas empenhadas, sendo que 10 estavam apenas escoltando o louco. Várias pessoas o esperavam e até tentavam subir no palco atrás dele.

A organização ligou para a polícia e para autoridades da região e após 15 minutos chegou uma viatura que levou o elemento. Não sei se ele foi preso, se era réu primário ou qual sua ficha, mas que nos deu um belo susto, tenho certeza.

Mais uma vez cheguei à conclusão que por mais tranqüilo que pareça um evento, não devemos economizar em segurança. Assim como o produtor, ela passa despercebida quando trabalha corretamente, mas sua falta pode ser facilmente notada, quando não há o trabalho preventivo, que cortaria o mal pela raiz, antes do cidadão subir no PA. Até a próxima!

1 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Que loucura ! Hahahahahah

11:22 PM  

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