quinta-feira, junho 15, 2006

Um fornecedor mal escolhido pode acabar com seu Evento (Parte III)

Com a experiência de outros eventos eu sabia que uma tenda poderia ser montada em meia hora se a equipe fosse rápida. Percebendo sua exaustão, por já estarem montando tendas sem descanso há mais de um dia, dei meu rádio para a assistente controlar as coisas e já subi no caminhão para ajudar. Outros funcionários envolvidos como os produtores artísticos, o diretor de palco e o técnico do gerador também vieram. Como não sabíamos montar, apenas descarregávamos o caminhão enquanto os rapazes montavam o palco primeiro. Mas o que eu não sabia, é que o piso elevado, seria praticamente construído na hora, pois os de montar apenas já haviam sido utilizados nos outros eventos.

Meia hora depois a equipe ainda estava montando a primeira tenda, quando chegaram os sanitários químicos. Indiquei sua posição de colocação e fui informado que eu não teria o meu PNE (sanitário para Portadores de Necessidades Especiais), o que achei um absurdo, pois estava confirmado e se aparecesse uma pessoa que necessitasse dele, ficaria pior a imagem do evento. Infelizmente não teve jeito, mas pelo menos não vi ninguém que pudesse necessitar de tal sanitário presente e nem fui informado de nenhuma reclamação.

Como o atraso do evento já era grande, os primeiros artistas começaram a ficar impacientes e protestaram contra o atraso. Após falar com o produtor artístico, o cantor do grupo Z’África, veio falar comigo que se não ficasse pronto logo ele sairia sem tocar. Ele tinha razão, já estávamos com quase 2 horas de atraso e o pessoal da tenda não estava nada rápido. A esta hora já trabalhavam com duas equipes, mas as 2 tendas para palco ainda não estavam prontas. Prometi que ia fazer de tudo para que começasse o mais cedo possível e pedi desculpa pelo atraso que me fugiu ao controle e partir para o cumprimento da promessa. Mesmo sem saber direito o que estava fazendo, botei a mão na massa mais ainda, carreguei a madeira para o piso e com um pedaço de cano de alumínio ajudei a pregar o piso no chão para que fosse mais rápido. Vendo minha atitude, até os técnicos do som e da luz ajudaram, mas sem poder fazer muita coisa por falta de conhecimento do assunto.

Com isso, o cantor do primeiro grupo voltou a mim, e disse que eles iriam tocar de qualquer jeito, pois viram que eu tava “ralando” pra que o show rolasse. Nesta hora me senti orgulhoso e voltei a me dedicar. Em vinte minutos, mesmo sem colocar o carpete no piso do palco, o show começou já com 3 horas de atraso.

Esta foi a deixa começar a montar o camarim, já que apesar de inacabado, não poderia montar mais mexer no palco. O serviço de buffet estava só esperando a montagem para preparar a mesa para os artistas, tínhamos que ser rápidos também. Pedi a montagem das tendas de produção e camarim conjugadas para economizar tempo e suspendi o piso de 10 cm que seria construído na hora e pedi para colocarem somente as folhas de compensado com o carpete colado em cima. Advinha quem carregou os pisos enquanto a tenda era montada... O produtor e seus parceiros – diretor de palco e técnico do gerador. Mas desta vez foi mais rápido, a tenda de camarim ficou pronta logo, enquanto a de produção ficou faltando o teto que foi montado meia hora depois. O buffet montou rapidamente sua mesa com a ajuda da assistente de produção. Agora só faltava buscar a mobília no evento próximo ao meu.

Quando cheguei no Vale do Anhangabaú, vi o tamanho do espelho e da mesa tomei um susto. Ambos eram grandes e não poderiam ser levados nem a pé e nem em uma van. Falei com meu colega responsável deste evento e vimos um furgão da nossa empresa, do setor de elétrica. Com a autorização do motorista, carregamos o furgão, porém a porta não fechava e qualquer batida ou buraco mais forte o espelho poderia se partir com o impacto ou com a torção.

Como o coordenador da Virada estava lá, pedi permissão para assumir este risco. Sua resposta foi simples e direta: “Pra você, hoje, a gente assume qualquer risco”. Tive esta sorte, pois os coordenadores e gerentes de eventos já sabiam o que havia se passado no meu evento e o perrengue pelo qual estávamos passando por lá.

Subi na van para segurar pessoalmente o espelho. Tirei meus sapatos, um daqueles de trekking feitos de couro, e coloquei por baixo do espelho para segurar o impacto e com meu corpo escorei o espelho da mesa enquanto o outro produtor ia segurando a porta da van para não bater no espelho. Fomos, novamente, pelo calçadão para cortar caminho e no final pegamos uma contramão em que um foi na frente do carro para desviar o trânsito. Havia também dois carregadores conosco.

Já no meu evento, rapidamente descarregamos e com a ajuda dos próprios artistas do Z’áfrica consegui espaço para já colocá-lo no camarim. Só os levaríamos de volta quando o evento já tivesse acabado, porém desta vez sem nenhum transtorno.

A partir daí o evento aconteceu mais tranqüilo. Apesar das 3 horas de atraso no início, o evento acabou com uma hora de adianto. Os artistas não tiveram troca de palco, foi natural, um entrava no palco com o outro e depois assumia e assim foi até o final. Porém, nenhum aparentou ter tocado com “tesão”, com o perdão do termo. Pelo contrário, muitas vezes a estrutura foi criticada pelos artistas e vaiada pelo público. No JT saiu até uma matéria sobre a virada cultural com um trecho de uma queixa feita pelo Thaide, artista de maior prestígio que cantou. Felizmente foi um dos poucos pontos da Virada Cultural que deixou a desejar.

E então, fica aqui registrada minha experiência para que ninguém duvide que a escolha dos fornecedores é fundamental para fazer um evento dar certo. Boa Sorte!