segunda-feira, julho 10, 2006

Interferência! - Dalai Lama em São Paulo

Na última visita ao Brasil do 14º Dalai Lama, Tenzyn Gyatso, produzi a parte técnica de um evento onde sua santidade re-inauguraria o espaço Gandhi em uma praça de São Paulo.

Aparentemente, seria uma cerimônia rápida e simples. Em apenas 15 minutos ele chegaria, diria algumas palavras e seguiria para outro evento. Seria necessário apenas um equipamento de som com duas asas P.A.s, microfones e sistema de retorno, um par de praticáveis e grades para isolamento do público.

Em um evento como este, o mais difícil é mensurar o público. Há muitos admiradores do Dalai Lama no Brasil, além dos budistas, e o cronograma de sua passagem pela cidade fora publicado em todos os jornais escritos e televisão. A praça não comportaria mais do que duas mil pessoas, então programamos o equipamento para o público máximo que o espaço comportaria.

Próximos à estatua foram instalados os praticáveis e de última hora resolvemos colocar uma tenda para prevenir contra o sol forte e também contra uma possível, porém improvável chuva. A tenda foi decorada e mobiliada pela entidade que trouxe a maior autoridade do Budismo ao país.

Quando estava tudo absolutamente pronto, aguardando apenas a chegada das autoridades para começar a cerimônia, uma freqüência de rádio entra no sistema de som e sai nas caixas de retorno. O microfone sem-fio foi retirado da tomada, mas não adiantou. A interferência continuou.

Não foi possível identificar com certeza absoluta de quem era o rádio, pois havia freqüências das policias militar e federal, guarda civil metropolitana, táxi, CET sem contar os rádios utilizados pelos produtores.

Com o tempo curto, a única solução era desligar os monitores de retorno. Ainda deu tempo de fazer um teste e percebi que o próprio PA daria retorno suficiente para as autoridades escutarem sua própria voz.

Assim começou o evento. Havia apenas quatro microfones ligados: o sem fio para o Mestre de Cerimônias, um para os dois tradutores, outro para as autoridades brasileiras e o último para o Dalai Lama, posicionado para falar sentado, conforme orientação da entidade que o trouxe ao Brasil.

Quando começou a cerimônia, a interferência aumentou e entrou no microfone sem fio, através de um zumbido. O que ninguém poderia adivinhar, é que sua Santidade levantou-se e falou com o microfone sem fio. Em posição estática, o barulho era pequeno, mas a cada movimentação de levá-lo à boca ou baixá-lo, fazia o zumbido aumentar.

O evento prosseguiu com este pequeno problema técnico, pois os técnicos não conseguiram solucionar. No final, descobrimos que mudando a posição da base, que recebe o sinal do microfone, a colocando a frente da mesa de som acabaria com o ruído. Nossa forte foi que o destaque do dia para a imprensa foi a vaia do público ao novo prefeito da cidade, e com isso, a gafe da equipe não foi lembrada.