sábado, agosto 30, 2008

Luz, Câmera, Paixão!

Produtores de Eventos e Produtores de Cinema

No mês do Festival de Cinema de Gramado, não poderia deixar de escrever um post sobe minha outra paixão: o Cinema. Recentemente, tive, ou melhor, estou tendo uma experiência completamente nova na minha carreira. Estou trabalhando em um filme! Trata-se de uma produção independente e de época, mas não é sobre o tema do filme que quero falar, e sim comparar minhas experiências no mercado de produção cinematográfica com as do mercado de eventos.

Obviamente, por ser tratar de um retrato de uma “realidade”, por mostrar a história com a visão do diretor, como se o expectador estivesse realmente vivendo aquilo a que assisti, é que a produção cinematográfica exige uma série de cuidados diferentes da produção de eventos. Nos eventos, trabalhamos uma arte com mais sensações e com o imaginário. Cada pessoa vê e interpreta o evento de uma maneira. Num show, por exemplo, uma música pode ser apenas um ritmo para uma pessoa dançar e para outra trata-se de uma letra que explica o momento que ela está vivendo.

Normalmente, nos eventos a iluminação não quer imitar o sol ou a luz da lua com perfeição, mas sim dar um clima para a música, para a peça, ou para a palestra. O sistema de som leva aos ouvidos do público um timbre agradável num show, com toda sua equalização e efeitos, porém muitas vezes sem se preocupar se as pessoas mais distantes ouvem ruídos externos, como em shows de rua, por exemplo. Em palestras é importante que a equalização leve aos ouvidos um som nítido com pressão agradável para que não deixe as primeiras filas surdas, e nem que exclua os mais de trás. Isso tudo sem contar os sistemas de retorno de palco.

O cenário de eventos costuma ser algo estilizado, feito por um artista plástico ou arquiteto, e as vezes é feito nas coxas ou simplesmente não há. Um set de filmagem tem todo um cuidado minucioso com a cenografia, que exige uma equipe apenas para isso.

Em cinema, a iluminação deve mostrar o espaço e os atores, de acordo com o que o diretor do filme e o diretor de fotografia querem, em harmonia com a maquiagem dos artistas. É algo planejado e objetivo do qual toda equipe é mobilizada até conseguir a perfeição, se não não roda. O som não é reproduzido, e sim captado, então não deve haver nenhum ruído indesejado na gravação. Quando gravamos um filme country a pior coisa que podemos ouvir é um barulho de motor de carro de fundo... “CORTA! Luz, câmera, Ação!” e lá vamos nós gravarmos novamente a mesma cena.

Antes dessa experiência, tinha a idéia de que trabalhar com cinema deveria ser mais fácil e menos estressante, pois se algo saiu errado, bastar cortar e refazer, enquanto em eventos, muitas vezes o erro acontece e já não há mais o que fazer... Se dá um feedback (microfonia) no som, não tem como voltar e gravar de novo. O público já viu, já era, agora basta apurar a freqüência causadora do transtorno para evitar uma nova ocorrência. Na sétima arte não é tão simples assim.

Normalmente as cenas no cinema são rodadas mais de uma vez para que sejam gravadas em ângulos diferentes, especialmente quando se trabalha com apenas uma câmera, o que não é tão incomum. São diversas pessoas trabalhando para tudo acontecer, se cada uma errar uma vez por cena, inviabiliza o trabalho. Imagine uma cena que tem que ser rodada em no mínimo dois ângulos, com apenas dois atores diferentes sendo que um fuma um cigarro atira no companheiro. Se em uma tomada (take) um ator esquece a fala, na outra o outro, na terceira o cameraman erra, na quarta o boom (microfone que capta a fala dos artistas, aquele do Costinha) aparece no enquadramento, na quinta cai uma peça do cenário, na sexta o continuísta não percebeu que o cigarro já estava muito pequeno, na sétima a pistola está sem festim, enfim... isso tudo aumenta o tempo de gravação, o que gera um desgaste da equipe e dos artistas o que pode impactar seriamente na qualidade do filme, e gera um desperdício de recursos, uma vez que o atraso será compensado com mais diárias de trabalho e de locação dos equipamentos. É por isso que no cinema cada pessoa da equipe cuida de um detalhe diferente, o erro deve minimizado sempre.

Em seu blog sobre a filmagem de Blindness - ensaio sobre a cegueira, Fernando Meirelles explica que em determinadas cenas fortes, cada artista tem seu tempo. Alguns atuam com perfeição na primeira e a partir da terceira, já perdem o bom resultado, pois sua emoção já não consegue ser preservada com o mesmo vigor. Outros na terceira, ou na quarta, enfim, cada um a seu tempo. Então uma perda no cinema, também pode ser para sempre, assim como no evento.

Para finalizar, não sei se com todo mundo é assim, mas notei que no cinema tive que usar muito mais vezes meu “kit de sobrevivência” e minha criatividade para gambiarras do que nos eventos em que trabalhei, onde as gambiarras são mais cotidianas e mais fáceis de serem previstas.

PS: Quem quiser saber um pouco mais sobre os bastidores da produção do cinema, ao invés de apenas assistir making ofs americanos que só falam abobrinhas sobre atores e personagens, recomendo ler blogdeblindness.blogspot.com.

Corta!!!